segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Eu perdi meu namorado

Enquanto meu telefone tocava, mas recusando me avisar , eu não  ouvia ele chamar;
Ele ia se cansando.
Enquanto eu atendia várias pessoas com procedimentos burocráticos de minha profissão;
Ele não enxergava que eu o amava e precisava dele ao meu lado, neste momento delicado.
Enquanto eu perdi o pai de minha filha;
Ele não  entendeu o processo e queria crescer chamar atenção.
Enquanto eu tentava levantar e se livrar das dores;
Ele não sabia pois ele era meu remédio.
Enquanto eu sentia falta dos seus carinhos;
Ele se afastava ignorava a situação sem perceber que isso viraria um furacão.
Enquanto eu queria conversar;
Ele não queria ouvir.
Enquanto eu queria escrever;
Ele não queria responder.
Enquanto  eu refletia sobre  contemporaneidade, que triunfa sobre o marxismo;
Ele dizia que eu fazia cara feia, e defendia que cada um tem que fazer sua parte.
Enquanto eu defendia a classe trabalhadora;
Ele defendia a burguesia.
Enquanto eu denúncio o racismo, a violência doméstica, a homofobia, violência contra criança;
Ele dizia que não entrou para DEGASE¹ pois sabia que não ia se controlar.
Enquanto eu digo que o sistema de transporte ferroviário do Rio de Janeiro trata os clientes como animais;
Ele dizia que eu não estava do outro lado.
Enquanto eu insisto que a ordem vigente tem que mudar;
Ele insiste que não há o que fazer.
Enquanto eu afirmava que o homem nos ensinou aprender;
Ele afirmava que o homem nos ensinou a destruir.
Logo eu perdi meu namorado, que achei logo ali na rua de minha vida.



                                                         1-DEGASE - Departamento Gerais de Ações Socioeducativas

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